A CIGARRA E A FORMIGAO MP (Ministério Público) decidiu nesta semana instaurar inquérito para investigar o contrato entre a Prefeitura de Americana e a Construtora Saúvas Empreendimentos e Construções. O promotor de Justiça dos Direitos Humanos e do Patrimônio Público e Social de Americana, Sérgio Claro Buonamici, quer saber se houve irregularidades no processo de contratação e prática de improbidade administrativa.
A investigação teve como base uma representação feita pela bancada petista na Câmara de Vereadores, por sinal, a parcela do Poder Legislativo que se mantém independente e que não se curva às vontades do Executivo sem ao menos questionar sua viabilidade, legalidade ou moralidade. Em resumo, que faz o que se espera daqueles que foram eleitos para fiscalizar - e não para agradar - ao prefeito.
Mas voltemos à relação Prefeitura-Saúvas, ponto central da investigação do MP. A denúncia da bancada de oposição na Câmara Municipal é de uma série de irregularidades na contratação da empresa que, a princípio, deveria apenas reformar as 52 escolas municipais. Todas, contudo, ainda dependem de apuração aprofundada para se dizer se são verídicas ou não.
O certo é que as dúvidas que suscitam deste relacionamento entre Administração Municipal e a empresa privada começam justamente da contratação da mesma, feita via modalidade pregão. Procedimento este que é vedado em casos de serviços de engenharia.
Isso, por si só, já daria margem a uma análise mais criteriosa do tal contrato em questão. Mas o caso não para por aí. Extremamente satisfeita com o trabalho da Saúvas, pelo que aparenta ser, a Prefeitura passou a usar a mesma licitação para a realização de obras por toda a cidade.
Vê-se a empresa trabalhando em canteiros de avenidas, praças e, é claro, na interminável reforma dos velórios municipais - que pela demora devem, quando reinaugurados, estar assemelhados a suntuosos palácios.
A exemplo do inseto do qual empresta o nome e que pode ser encontrado facilmente onde haja um pouco de doce, por toda Americana, onde há obras, é comum estar também a Saúvas.
Numa versão adaptada da famosa fábula recontada por La Fontaine, pode-se imaginar em Americana "a cigarra e a formiga", mas associadas. A formiga, é claro, está mais do que descrita. Quanto à cigarra... Bom, a cigarra gosta mesmo é de alardear com gritos extridentes sua presença onde quer que esteja.
E quando não dá para fazer isso com a própria garganta, a cigarra-executivo o faz em forma de caros anúncios pagos com dinheiro do contribuinte, goste ele ou não de fábulas ou da maneira como a cidade é administrada. Para quem não sabe, a cigarra de La Fontaine, no fim da fábula, e depois de muito cantarolar sem dar bola a quem a advertia, dançou.
FONTE: http://www.liberal.com.br/site/cadernos/contexto_ver.asp?c=03D1CEEA287